O ano de 2022 foi turbulento com a economia espremida entre o rescaldo de uma pandemia e uma disputa eleitoral acirrada, enquanto sofria os reflexos de uma guerra internacional. O levantamento do último ano, feito pela Scanntech, plataforma de dados granulares e acionáveis, afirmou que 2022 provou, na prática, que apesar dos impactos negativos no consumo, com tanta turbulência, o setor supermercadista e de bens de consumo seguiu sólido e resiliente.

De acordo com a Scanntech, em 2022, a guerra da Ucrânia, os programas de transferência de renda, a retomada do fluxo nas lojas físicas, a reduflação e as mudanças no perfil do atacarejo regional foram os cinco acontecimentos mais marcantes do ano, em relação ao consumo.

Confira os fatos que marcaram o consumo em 2022:

1. Guerra na Ucrânia

A guerra da Ucrânia, que começou em fevereiro, intensificou a escalada de preços iniciada com a pandemia da Covid-19. Como a Rússia tem papel importante no preço do gás natural, dos fertilizantes e do petróleo, a guerra provocou uma disparada dos preços globais das commodities agrícolas e de energia sentidos a partir de março.

O leite foi a categoria que registrou a maior alta de preços no segundo trimestre. O aumento dos fertilizantes e de alguns grãos pressionaram o custo da ração animal, impactando de forma geral os custos da pecuária leiteira. O fato teve reflexo também sobre os seus derivados, com pico de aumento no mês de julho, quando a variação chegou a ser de 50,1% em relação ao mesmo período de 2021.​
 

2. Reduflação

Com a perda de poder aquisitivo do consumidor, a reduflação (redução do tamanho médio da embalagem comprada) foi uma estratégia buscada tanto pela indústria quanto pelo shopper para driblar o repasse de preços ao consumidor em algumas categorias.

Nas top 50 categorias, houve uma redução em torno de 1% no tamanho médio das embalagens, enquanto algumas categorias de maior impacto no preço por kilo ou litro tiveram reduções maiores, buscando segurar o aumento do desembolso médio em cada unidade vendida.​ ​
 

3. Retomada do fluxo nas lojas

Com a melhora progressiva da pandemia, o consumidor voltou a sair de casa e frequentar mais as lojas. A retomada e a estabilização do fluxo em lojas é uma grande oportunidade de melhorar compras por impulso, gerar experimentação de produtos e focar na experiência.

A outra faceta do aumento de fluxo é a queda em unidades por tickets, afinal não é mais tão necessário se abastecer. No entanto, desde agosto, mesmo com a estabilização do fluxo em lojas observa-se a retomada das unidades por ticket, indicando recuperação dos piores níveis do início do ano.
 

4. Programas de transferência de renda

Ciclos eleitorais costumam injetar dinheiro na economia e nesta eleição tão disputada houve um impacto causado pela Emenda Constitucional (EC) 123, editada em julho de 2022, que destinou R$ 41,25 bilhões, até o fim do ano, para benefícios sociais.

O valor do Auxílio Brasil que era de R$ 200,00, em novembro de 2021, passou para R$ 600,00, que somado ao maior número de famílias contempladas afetou positivamente as cestas de alimentos. A injeção de recursos na economia gerou crescimento de 2,9% na venda em unidades, em agosto – quando o impacto do benefício começou a ser sentido pelo comércio -, em comparação com a média de janeiro a julho de 2022. O feijão foi o item que apresentou a taxa mais expressiva (6%) e o leite o produto que mais contribuiu para esse aumento, já que tem a maior participação na cesta (35%).
 

5. Mudanças no atacarejo regional

Segundo a Scanntech, o atacarejo regional perdeu competitividade para os supermercados. Além disso, o canal apresentou aumento de share de emissão de tickets, enquanto o seu share volume permaneceu estável em relação a 2021, o que indica que o tamanho de seus tickets está retraindo em uma velocidade maior que o dos supermercados, refletindo o aumento da importância do consumo de pessoa física.

“Sempre me perguntam o que eu acho que vai acontecer e respondo que na Scanntech o futuro não se prevê, o futuro se constrói. 2023 segue com muitos desafios de ordem natural, política, econômica local e internacional. Quanto maior a instabilidade do cenário, mais teremos que agir no granular: semana a semana, produto a produto, loja a loja, para conquistar a preferência do shopper que está cada vez mais apertado e assediado por novos varejistas e fabricantes.” explica Priscila Ariani, diretora de Marketing da Scanntech.

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