Por: Antônio Sá, sócio-fundador da Amicci

Estivemos no maior evento de marcas próprias do mundo, a PLMA World of Private Label, que acontece todos os anos em Amsterdã, na Holanda. São muitos pavilhões com a presença de centenas de fornecedores, das mais diversas categorias. Forte indicativo de que fabricantes e varejistas priorizam o desenvolvimento de marcas próprias como estratégia corporativa.

Até pouco tempo, em alguns países como o Brasil, produtos de marca própria eram taxados como de “qualidade duvidosa”. A crença caiu por terra, muito por conta de uma nova mentalidade da liderança de grandes e médios varejistas, que entenderam que precisam oferecer produtos com muita qualidade para fidelizar o consumidor final. Esse movimento impulsiona o crescimento de marcas próprias, que já ostenta uma participação global de 23% em 2022.

Esta última edição da PLMA reuniu varejistas, distribuidores e atacadistas com os principais fornecedores do mundo. Foram proporcionados insights e tendências de produtos ao redor do mundo. Como maior desenvolvedora de produtos exclusivos da América Latina, a Amicci reuniu uma delegação de especialistas, empresários e executivos do varejo e indústria, para acompanhar toda a programação – que incluiu palestras e visitas técnicas a importantes varejistas e indústrias da Europa.

Costumo dizer que o Brasil é o país das marcas próprias, principalmente quando levamos em consideração dois pontos: o valor do salário mínimo, de R$ 1.320, em que 50,9% disso é direcionado para alimentação; e os preços de alimentos básicos, que, segundo NielsenIQ, no último ano subiu 15%, dois pontos percentuais acima da média global. Isso evidencia o quanto o brasileiro precisa buscar meios para otimizar seus gastos e realizar compras inteligentes. E por que não investir em produtos estampados com o nome de uma grande rede? Ainda mais quando podem ser até 30% mais baratos do que marcas líderes.

No entanto, quando analisamos o cenário atual, fica claro o quanto ainda é uma alternativa pouco explorada. O varejo alimentar e farmacêutico tem participação de apenas 5% no país. Embora seja uma porcentagem baixa, uma pesquisa também realizada pela NielsenIQ apontou que produtos exclusivos já estão presentes em 34% dos lares brasileiros. E acredito que a presença vá crescer expressivamente nos próximos anos, principalmente se examinarmos o contexto mundial, que mostra a população muito aberta para o portfólio exclusivo de redes varejistas.

A Europa e a América do Norte têm participação de 33,6% e 16,5%, respectivamente. A América do Sul conta com 8,1%, mostrando um oceano de oportunidades quando se fala em “desenvolvimento”. Devo alertar, no entanto, que empresas que desejam usufruir dos benefícios das marcas próprias – que incluem melhoria de margens e fidelização – devem acompanhar o que está funcionando em países cuja estratégia já é bem consolidada.

Brasil pode ir mais longe

Para oferecer vantagens reais para os consumidores, varejistas e indústrias podem abrir mão de focar no desenvolvimento de produtos de muita qualidade. E o PLMA nos trouxe ótimos insights do que precisa ser feito por aqui para que a estratégia se popularize ainda mais.

Uma tendência revelada no evento, foi o desenvolvimento de produtos sazonais, para datas comemorativas, como o Natal, Páscoa ou Halloween, populares em outros continentes. Nos Estados Unidos, são fabricadas até mesmo cervejas especiais para as estações. No inverno, as bebidas mais encorpadas e escuras ganham muito espaço nas prateleiras. Seguindo essa mesma linha, no Brasil, os varejistas devem aproveitar as datas mais populares, como a Festa Junina, para lançar itens especiais, com embalagens diferenciadas e até a escolha de ingredientes típicos.

As linhas de bem-estar também estão em alta, assim como produtos premium. Tudo isso focando em fornecedores orgânicos e locais. Estes últimos, denotam uma importância dada pelos consumidores a ítens que são produzidos na região onde o cliente mora. 

A preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade também ficou evidente. E considerando que a preservação ambiental é um ativo econômico para o país, podemos aplicar o que já está fazendo sucesso na Europa e América do Norte: produtos de beleza desenvolvidos à base de alimentos e itens de limpeza e higiene com fórmulas sustentáveis, veganas e cruelty-free.

É muito comum que as pessoas julguem o livro pela capa e o mesmo acontece quando falamos de embalagens de produtos. A PLMA evidenciou a importância de embalagens instagramáveis, ou seja, aquelas que ficam bem em fotos e que podem ser publicadas sem muitas edições nas redes sociais. Ao final, o cliente precisa ser seduzido por embalagens inspiradoras.

A partir desses insights, empresas que buscam retornos financeiros significativos devem analisar cenários e recalcular rotas, com base nos hábitos de consumo dos brasileiros, e buscar meios de potencializar ganhos ao passo que oferecem as melhores opções aos consumidores.

O evento evidenciou a pujança das marcas próprias no mundo todo. Fica para os supermercados brasileiros a mensagem de que é possível e necessário desenvolver marcas próprias com o mais alto nível para fortalecer relações comerciais, ganhar rentabilidade e competitividade, e fidelizar clientes.