O terceiro dia do Congresso de Gestão iniciou com a palestra de Edu Lyra, CEO da ong Gerando Falcões, que contou sua experiência sobre o início de sua carreira como escritor independente, e as dificuldades que encontrou para transformar sua realidade de origem periférica.
A partir de sua vivência pessoal e a conexão que estabeleceu com outras pessoas que viviam uma realidade similar, Lyra fundou a ong Gerando falcões, cuja missão é colocar a riqueza da favela dentro do museu: “é necessário interromper o ciclo de pobreza no país. O CEP de alguém não pode definir onde a pessoa vai chegar na vida”, destacou o CEO.
Lyra apresentou dados da ong que preside e revelou que, durante o período da pandemia, a Falcões alimentou mais de 1 milhão de pessoas, movimentando mais de 100 milhões de reais a partir da iniciativa privada. “A única forma de convivência e desenvolvimento para o futuro é a colaboração, porque construir um amanhã melhor é algo que passa pela coragem de colaborar”, explica.
Nesse sentido, as empresas assumem um papel central na vida social e econômica, como é o caso da Nestlé. A gigante do varejo, em parceria com a organização Gerando Falcões, criou uma barra de cereal especial para uma parceria de sucesso, visto que 100% do lucro obtido na venda do produto foi destinado para combater a pobreza no país.
Além da Nestlé, outra parceria da ong foi de grande sucesso, dessa vez com a Havaianas. A conhecida marca de sandálias desenvolveu um produto exclusivo com a Gerando Falcões, e parte da venda no calçado também foi destinada para gerar recursos dentro de inúmeras favelas brasileiras.
Apesar das iniciativas para gerar investimentos contra a fome nas favelas brasileiras serem necessárias, Lyra também explicou como tais áreas urbanas são verdadeiros núcleos de desenvolvimento econômico: “A economia das favelas brasileiras é maior que o PIB do Paraguai. Existe muita potência na favela”, ressaltou.
Nessa perspectiva, o CEO destacou que existe uma oportunidade muito grande para o setor supermercadista nas favelas, tendo em vista que conectar essas potências pode gerar transformações reais e muito positivas para a sociedade brasileira, além de novos negócios para as empresas envolvidas.
De humano para humano: do propósito ao crescimento sustentável
Em seguida, ainda no palco principal do Congresso de Gestão, Dill Casella, palestrante motivacional, discorreu sobre como as conexões humanas podem gerar valor para os negócios a partir da inovação.
Para ilustrar o tema, alguns cases de sucesso foram apresentados por Casella, como o da Uber, que verificou uma lacuna na relação humana entre passageiros e taxistas, e preencheu esse espaço com um novo negócio. “A relação entre taxistas e passageiros era péssima. A Uber chegou e melhorou essa relação, o que realmente deu certo. Hoje, quando as pessoas pensam em se deslocar, qual aplicativo é líder em locomoção particular?”, provocou Casella.
O mesmo, segundo o palestrante, aconteceu com o Airbnb, que percebeu outra brecha nas relações humanas, mas dessa vez no setor da habitação e lazer. “A Airbnb começou seus negócios facilitando locações de espaços a partir da intimidade humana, de seus territórios particulares, como as casas e apartamentos residenciais. Hoje ela continua seu propósito vendendo mais que isso, ela vende novas experiências de pessoas para pessoas”, explicou.
Casella finalizou sua palestra explicando que observar o comportamento humano é fundamental para perceber as tendências e as inovações. Um bom exemplo levantado pelo palestrante foi a pandemia, período em que a sociedade percebeu que não queria viver em sociedades com carros voadores como nas séries futuristas, mas sim estar perto da natureza, trabalhando em casa, com espaço e conforto.
A potência humana: o caminho para superar os obstáculos ao longo da sua jornada
Continuando as atividades do Congresso de Gestão, a jornalista Flávia Cintra conduziu a conversa no palco principal e levantou questões importantes a respeito do conceito de capacitismo e sua recente chegada ao conhecimento do público e das empresas.
Para debater o tema e apresentar uma perspectiva subjetiva e real, Cintra convidou Daniel Dias, ex-atleta paraolímpico; e Pedro Pimenta, CEO da Vinci Clinic. Dias e Pimenta possuem histórias diferentes, mas ambas perpassadas pelo convívio com uma deficiência e a superação dos obstáculos sociais que precisaram enfrentar durante suas jornadas.
O atleta e o empresário, mesmo em setores diferentes de atuação, destacaram como foi complexo superar alguns desafios quando até pouco tempo não era possível sequer encontrar referenciais positivos de pessoas com deficiência que tinham sucesso em suas carreiras.
“Não se falava em capacitismo até pouco tempo. Não se via nada a respeito do tema na televisão. O preconceito era velado e naturalizado, o que nos impedia de encontrar até mesmo conhecimento para enfrentar o preconceito”, destacou Cintra.
No Brasil, o IBGE aponta que 24% da população se auto identifica como PCD, o que demonstra a importância da inclusão no mercado de trabalho. A Lei de Cotas, por exemplo, é uma forma de garantir a representatividade dessas pessoas nas empresas, no entanto, segundo os painelistas, é fundamental rever a hierarquia organizacional para garantir que esses profissionais não se concentrem apenas nos cargos base.
“Às vezes, mesmo quando possuem ótima bagagem acadêmica, as pessoas com deficiência não conseguem chegar aos cargos de gestão”, explicou Pimenta, evidenciando que as empresas ainda têm muito a fazer quando o assunto é a inclusão e o desenvolvimento desse grupo específico.
Os conhecimentos compartilhados pelos painelistas demonstraram que mais do que atuar na eliminação de barreiras do ambiente (que impedem o acesso físico de algumas pessoas), é necessário oferecer ferramentas e condições de acessibilidade para a comunicação e desenvolvimento desses profissionais.
O Congresso de Gestão da APAS SHOW 2022 encerrou suas atividades hoje (19) e a cobertura completa sobre os conteúdos do evento estão disponíveis aqui no site da Super Varejo.