Durante a pandemia de Covid-19, a partir de março de 2020, os supermercados ditaram as regras do mercado de consumo no país, servindo de “norte” para diversos segmentos da economia. No comando da APAS (Associação Paulista de Supermercados), o empresário Ronaldo do Santos, que exerceu o cargo de presidente desde o ano de 2018, e que deixa o posto no dia 31 de agosto, conduziu o trabalho junto às principais redes varejistas do país no período. Abaixo, ele pondera os principais desafios enfrentados pelos varejistas nos últimos quatro anos, as mudanças no perfil do consumidor e das lojas físicas, que foram influenciadas diretamente pelo crescimento das vendas online.
Como analisa o mercado de consumo em 2018 no Brasil, um ano antes da Covid atingir o mundo?
Por incrível que pareça, o cenário econômico de quando assumi a presidência da APAS é muito parecido com o atual. O brasileiro é otimista e acredita que o próximo ano sempre será melhor que o anterior. E o mesmo se dava naquela ocasião, uma vez que o país vinha de um processo de recuperação, mas de forma lenta, ainda com queda no PIB – Produto Interno Bruto – e crescimento devagar da economia. Quando assumi a presidência da APAS em 2018 estávamos em um momento difícil tanto economicamente quanto politicamente, com a esperança de que o ano que vem seria melhor. E isso acontece nos dias de hoje.
Qual foi o maior desafio dos últimos quatro anos do setor supermercadista?
Eu não tenho dúvida de que foi a pandemia, que gerou impactos profundos não só no setor, mas na sociedade e no mundo. Se tratou de algo que não se esperava. Em 2022 voltamos a trabalhar, viajar, ir à restaurantes, etc, tudo de forma presencial. O ser humano vive do relacionamento. Gostamos e precisa disso. O nosso setor sofreu muito com a pandemia, e a maior dificuldade foi manter as lojas em operação, para poder atender os consumidores em meio ao receio de operar em meio a algo que desconhecíamos.
E o desempenho do setor supermercadista durante a pandemia?
De ponto positivo, essa realidade nos trouxe o aprendizado de que conseguíamos mudar as coisas mais rápido do que imaginávamos. Essa foi a principal dificuldade para o setor, assim como a falta de produtos. Vendemos e entregamos para os consumidores, dada a essencialidade do setor. Estava muito claro que não poderíamos parar, uma vez que quando não há o bem essencial, você esbarra no problema de segurança, seja alimentar ou pública. Então era responsabilidade dos supermercados e da cadeia produtiva dar segurança aos consumidores.
Como foi a operação dos supermercados, na prática, neste período?
Trabalhamos muito na comunicação para manter as lojas abertas e operar com segurança, para preservar colaboradores e consumidores. Foi um grande aprendizado. Em um processo normal, provavelmente, se levaria alguns anos para implementar os protocolos que a APAS disponibilizou para os associados, ao mesmo tempo em que incrementava novas medidas nas lojas para garantir a segurança de todos. Num processo normal, levaria anos e fazíamos tudo a “toque de caixa”, tudo para manter as lojas abertas e seguras.
Qual o impacto das vendas online nas lojas físicas?
Depois que a pandemia chegou, todo mundo teve que vender e comprar online. Tivemos que adequar e implementar um processo logístico diferente para potencializar o e-commerce. A loja física também evoluiu nos últimos quatro anos. Acho que avançou, mas ainda bastante focada nos produtos que a gente chama de linha seca.
E os maiores desafios para se vender online por parte dos supermercados desde então?
O maior desafio ainda está na operação com os perecíveis, principalmente FLV (frutas, legumes e verduras). A participação de mercado ainda é pouca porque existe uma certa “desconfiança” por parte do consumidor de comprar esses produtos pela internet. Geralmente ele prefere escolher no supermercado, pois preza a qualidade. Ainda existe uma fronteira que necessita ser ultrapassada nesta categoria.
Quando se trata da operação dos supermercados, quais as principais lições aprendidas com a Covid?
Eu acredito que houve uma melhora na operação das lojas físicas. O aprendizado em relação aos cuidados em função da Covid permaneceu. Evidente que alguns protocolos não se cobram mais. Muitas exigências foram retiradas, como o uso de máscaras, por exemplo.