Dois anos após a chegada da vacina no Brasil, o varejo está cada vez mais interessado em prever riscos e centralizada no consumidor. Especialistas e estudos globais, como o da consultoria CB Insights, apontam um futuro com lojas físicas mais interativas, com ênfase no atendimento ao cliente e abertas à omnicanalidade.
“Um dos pontos que vai mudar no varejo físico, com certeza, é a experiência. As lojas se adaptarão cada vez mais ao perfil de comprador que elas querem atingir. A coleta e análise de dados ajudará a mapear o público-alvo e os fatores decisivos para a compra. A tecnologia está mudando não só as lojas físicas, mas permite integrar a tomada de decisão com a indústria e de diferentes canais. O reflexo disso é aumento nas vendas, uma produção mais sustentável, com menos desperdício e mais previsibilidade”, explica André Krummenauer, CEO da Involves, empresa que desenvolve plataformas de inteligência artificial.
Krummenauer acredita que a indústria está caminhando para a Execução 4.0, conceito que define como as informações coletadas nos pontos de venda se integram à indústria. “O setor ainda tem muito espaço para se tornar mais inteligente. Tanto a indústria quanto as lojas recolhem dados que, combinados, provocam mudanças decisivas. Dados tão relevantes captados isoladamente não podem mais ser analisados sozinhos. A colaboração com uma visão computacional é o caminho para colocar o comprador no centro dos negócios”, explica o CEO. Especialistas listaram o que mais mudará no setor.
Sustentabilidade
Estudos de empresas de inteligência de mercado, como a WGSN, mostram que a indústria já está se adaptando aos novos hábitos de consumo. Entre as tendências previstas até 2025, por exemplo, está a necessidade de repensar o impacto das embalagens de produtos para o meio ambiente.
Omnicalidade
O futuro pós-pandêmico já está mudando a forma que as pessoas compram. Com isso, o autosserviço (cash and carry) e o acesso a múltiplo canais de venda estão entre as previsões de tendências para 2023. “Juntar on e off e trabalhar cada vez mais o canal cash and carry. Ou seja: você olha formato, que é o omnichannel, e canal, que é o cash and carry, e tem espaço enorme para navegar, principalmente saindo das áreas periféricas e vindo para os centros das cidades. Então, quando a gente olha tendência é, em resumo: migrar o pensamento de customer centricity para shopper centricity. Trabalhar a categoria certa nos canais em ascensão, como, por exemplo, o cash and carry e trazer cada vez mais dados, granularidade e conhecimento do seu shopper num CRM e conectar o on e o off. Tudo isso, certamente, vai ser tendência por um bom tempo”, analisa Núria Nava, head de trade marketing da Red Bull.
Jornada do shopper
O planejamento das estratégias de marketing será mais amplo. Emília Veloso, CEO Digital Shopper e coautora do livro “Mulheres do Varejo”, acredita que a comunicação deve considerar desde a distribuição dos fabricantes (sell-in) até a venda final (sell-out). “Acredito que precisamos mudar o mindset da indústria que é pensar ‘como eu falo do sell-in e como eu falo do sell-out’. O pensamento tem que ser o crescimento do negócio e entender toda a jornada do shopper. Não é mais só considerar no ponto de venda. E essa jornada não é mais construída sozinha. Eu preciso sentar com o marketing, para entender desde o início como eu impacto o shopper e já dou a opção de compra para ele. O futuro do trade marketing é a construção conjunta com o varejo, com o marketing e passa a ser uma área que não vai mais ser só trade e sim, o customer. Ainda não sei como vai chamar, mas precisa ir além e pensar no crescimento”, antecipa.
Cash and carry
O preço segue sendo o fator principal na decisão de compra. Por isso, as compras por atacado, em lojas com variedade de produtos continuam em alta. “Alguns comportamentos assumidos durante algum tempo não terminam amanhã. O consumidor entende que o atacarejo, ou cash and carry, é um canal que oferece melhores preços, ou custo benefício. Em média, esse canal cobra 10%, 12% menos em relação à média dos demais canais. Então o cliente tem essa clareza e vai continuar vendo isso. Mas a gente acredita que, da mesma forma, à medida que a economia consiga avançar, começamos a privilegiar também as lojas de vizinhança. Porém, acho que até pelo investimento que as grandes redes vêm fazendo nesse formato, para 2023 a gente segue vendo esse canal se fortalecer”, avalia Daniel Asp de Souza, gerente de relacionamento com o varejo da Nielsen-BR.