Os estoques totais de trigo tiveram elevação em todo o mundo, de acordo com o último relatório divulgado pela United States Departament of Agriculture (USDA), órgão público que cuida da agricultura nos Estados Unidos. Mesmo com o anúncio da estabilidade dos estoques mundiais para 2022, não foi suficiente para amenizar os preços futuros das commodities negociados em Chicago (EUA). A desmobilização da cadeia de suprimentos, que o mundo está enfrentando, produz inflação mundial no curto prazo, provocando elevação nos custos logísticos.
A inflação causada pelos alimentos impacta todo o mundo. Nos Estados Unidos ela já chega a 7,8% e é a maior em 40 anos. Na Zona do Euro a inflação fechou o mês de março de 2021 em 7,5%. No Brasil não é diferente, o IPCA, Índice de preços do consumidor, usado para observar tendência de inflação, volta a ganhar força por conta da pressão internacional e acumula 10,54% nos últimos 12 meses. Novas projeções para a taxa de juros já chegam a 13% a.a. até o término de 2022.
Hoje o trigo está entre as commodities agrícolas mais consumidas e o choque de oferta inicial, provocado pelo conflito da Rússia com a Ucrânia, resultou em restrições em seu fornecimento para o mundo. Nesse cenário, o Brasil, como produtor e exportador, acaba sendo impactado não só pela elevação das novas cotações, mas também pelo câmbio depreciado que encarece o custo de produção.
Segundo estimativas da Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, a produção de trigo será 2,6% maior em relação à safra passada, mantendo a mesma área cultivada em relação ao ano passado. Para atender o consumo interno, de aproximadamente 12.549,8 mil toneladas, temos que importar 51% desse volume, repassando os incrementos cambiais produzindo, assim, elevação no custo de produção de seus derivados.
Os impactos na cotação do bushel em Chicago foram imediatos, os preços futuros negociados para maio já valorizaram 5,29% por bushel. Os recentes pronunciamentos de problemas climáticos em uma das principais regiões produtoras dos EUA já produziram mais pressão nos preços negociados.
Os preços internacionais impactam diretamente na cotação no Brasil, que viu a cotação na região do Paraná atingir R$ 1.944 por tonelada, em abril de 2019 a tonelada saía por R$ 891. Com base nos preços de negociações monitorados pela CEPEA/ESALQ, centro de pesquisas econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, o preço por tonelada disponível no mercado à vista de abril valorizou 16,51% desde de abril do ano passado.
A partir da super valoração que as commodities começaram a registrar, a partir de março de 2020, em todos os mercados, os preços dos produtos derivados do trigo refletiram esses efeitos, recebendo a elevação dos custos de produção por conta dos preços negociados internacionalmente do trigo.
O atual problema inflacionário que muitos países enfrentam é fruto do efeito commodities, que, por sua vez, passam por um processo de transformação de preço e logística. Os preços estão atingindo recordes de elevação, a cadeia logística pressiona os preços com a alteração dos players. A cesta dos panificados, por exemplo, inflacionou 2,47 % em março, 13,09 % nos últimos 12 meses, e a tendência para 2022 é de elevação em decorrência do choque de oferta internacional.
O recente choque de oferta do trigo e do girassol na cadeia logística, que encontra-se nesse momento em transição e realocação de players, pode provocar mais pressão nos seus preços em decorrência das alterações climáticas que impactam a economia mundial, provocando redução de produtividade.
Uma coisa é certa, para o primeiro semestre de 2022, veremos tendências de altas nos preços, tanto para commodities agrícolas quanto para as industriais.
Diego A. Pereira é economista do Departamento de Economia e Pesquisa da APAS (Associação Paulista de Supermercados).