A pandemia da Covid-19 impactou o setor de flores e plantas ornamentais, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, provocando mudança no comportamento e no padrão de consumo dessas mercadorias. Nesse contexto, a procura e o engajamento com atividades relacionadas ao cultivo e à observação das plantas devido a diferentes motivos, como saúde física e mental, bem-estar, lazer, entretenimento, entre outros, despontaram em escalas nunca antes experimentadas pelo mercado.
Dessa forma, o mercado de ornamentais – que chegou a temer por sua derrocada nos primeiros momentos pandêmicos, com o fechamento de lojas e a proibição dos eventos, até mesmo os fúnebres – experimentou um inesperado e notável aumento da demanda, da qual mal dava conta de atender. O fenômeno foi suficiente para sustentar um crescimento médio anual de vendas da ordem de 7% a 8% no Brasil – mesmo no pior cenário – especialmente devido aos estímulos da demanda de plantas verdes para decoração de ambientes interiores e exteriores. Nos últimos anos e com forte ascensão na pandemia, algumas espécies tropicais, como a costela-de-adão (Monstera deliciosa), se tornaram verdadeiras celebridades mundiais e ainda fazem sucesso nas redes sociais. O fenômeno inspirou, inclusive, o surgimento do movimento internacional #monsteramonday, que consiste na publicação de fotos e selfies com essa planta na segunda-feira, que já conta com 865.500 publicações apenas no Instagram.
Estimativas da Hórtica Consultoria apontam que o mercado de consumo de flores e plantas ornamentais brasileiro já está em torno de R$ 10 bilhões, com participação crescente do setor supermercadista. De fato, as vendas de flores e plantas ornamentais em super e hipermercados vêm experimentando crescimento firme e sustentado ao longo dos últimos anos, com a introdução constante de melhorias logísticas e operacionais.
Durante a pandemia, a participação do autosserviço se expandiu ainda mais rápida e firmemente, haja vista que durante o período mais crítico para o setor – de fechamento de lojas e proibição de eventos – esses equipamentos estratégicos de abastecimento permaneceram abertos e constituíram-se no canal de salvação comercial de toda a cadeia produtiva. Especialmente a partir do último trimestre do ano passado, com o avanço das vacinações e o arrefecimento dos índices de contaminação, o setor de festas e eventos voltou a operar, injetando novos ânimos nos produtores, comerciantes e prestadores de serviços em geral.
Sem dúvida que o novo cenário desse início de 2023 traz preocupações e dificulta a projeção. Mas estamos seguros de que a pandemia, infelizmente ainda em andamento, deixará legados e contribuições culturais relevantes à relação dos consumidores com as áreas verdes, plantas ornamentais e flores em geral. Resta agora a todos os agentes da cadeia produtiva, manter acesa essa conexão, favorecendo o aumento de conhecimento sobre biodiversidade, cuidados vegetais, importância delas para a saúde e bem-estar e uma produção cada vez mais sustentável, resiliente e bela.
Antonio Hélio Junqueira. Doutor em Ciências da Comunicação (ECA/USP), com pós-doutorados em Gestão da Informação (UFPR) e em Comunicação e Práticas de Consumo (ESPM), área em que também tem mestrado. Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), sócio-proprietário da Hórtica Consultoria Tendências e Inteligência de Mercado