Por: Fabrícia Botelho, fundadora da FABBO Futuros

Fundado em 1987 em Austin, Texas (EUA), o South by Southwest (SXSW) surgiu como o principal destino dos criativos em todo o mundo.

Um pequeno grupo do estado norte-americano iniciou uma série de longas discussões sobre o futuro do entretenimento e da mídia. A música era o fator de união, mas o grupo tinha um gosto diverso pela arte e pelas ideias. A inclusão e a busca de coisas novas eram valores centrais. O primeiro evento, realizado em março de 1987, viu um esperado aumento de 150 inscritos para 700 no dia da abertura. Como se esperava, o charme de Austin conquistou os visitantes e a SXSW ganhou vida própria.

O evento mudou de maneiras surpreendentes e significativas desde 1987, mas em sua essência o SXSW continua sendo uma ferramenta para pessoas criativas desenvolverem suas carreiras e reúne pessoas de todo o mundo para conhecer, aprender e compartilhar ideias. (E talvez ter algumas experiências únicas na vida).

A edição deste ano aconteceu entre os dias 10 e 19 de março, e contou com um público de cerca de 300 mil pessoas, sendo 40.000 mil só no congresso.

Com cerca de 1.500 sessões, divididas em trilhas temáticas, o evento envolveu diversos assuntos, como possíveis futuros, propaganda e experiência de marca, mudanças climáticas, cultura, design, energia, indústria cinematográfica e televisão, alimentação, indústria dos jogos, saúde, economia, mídia, música, psicodélicos, esportes, startups, tecnologia, transportes, viagens e lazer, revolução do trabalho, realidade virtual, metaverso e inteligência artificial.

Muitas coisas acontecem ao mesmo tempo por lá: conteúdos, ativações de marca, lançamento de filmes (tapete vermelho com atores famosos), festival de música e uma feira das tecnologias e produtos ligados aos conteúdos que estão sendo discutidos. Os arredores do Centro de Convenções ficam tomados pela programação, mas você encontra eventos espalhados por toda a cidade 24 horas por dia durante todo o festival.

O conteúdo é fantástico e serve para ficarmos atentos aos assuntos que estão sendo discutidos em pequenos grupos, mas que em breve ganharão o grande público e influenciarão direta ou indiretamente os negócios.

As ativações de marca são muito bem elaboradas e uma aula para quem quer aprender mais sobre como realizar uma experiência memorável para seus clientes.

Falando um pouco mais sobre o conteúdo, como não poderia deixar de ser, a inteligência artificial dominou, inclusive tendo a presença do presidente da Open.ai, dona da Chatgpt e Dall.e, Greg Brockman, que falou sobre as oportunidades que a inteligência artificial vai trazer, mas sem se profundar sobre algumas ameaças preocupantes, tais como: o futuro de algumas profissões, como será a questão de direitos autorais, privacidade, etc.

Amy Webb, famosa futurista e John Maeda (VP da Microsoft) também falaram de inteligência artificial, sendo que Amy alertou que a internet como conhecemos acabou, hoje fazemos buscas na internet e amanhã seremos buscados. E John Maeda avisando que teremos que aprender o que fazer com a abundância de modelos e ferramentas de IA disponíveis agora.

Experiências imersivas com realidade aumentada também foi um assunto muito presente nas palestras e nas ativações, com muitas tecnologias disponíveis para serem usadas pelas empresas na criação de soluções para diversos problemas, bem como para experiências.

A mudanças climáticas foram bastante discutidas, com destaque para a presença do presidente da Patagônia, Ryan Gellert, que falou abertamente que as empresas dos setores de combustíveis fósseis, agricultura e vestuário, estão entre os piores poluidores do planeta e são responsáveis ​​por muitos dos problemas que enfrentamos atualmente com as mudanças climáticas.  Portanto, é responsabilidade deles limpar a bagunça que criaram. “Os líderes empresariais farão a coisa certa, depois de esgotarem todas as outras opções”, disse Gellert.

A Patagônia, inclusive fez a compra de uma empresa no setor de alimentação (Moonshot), para também, para entenderem como melhorar a cadeia de agricultura para que ela afete menos o meio ambiente.

Com tanta tecnologia, um assunto bastante relevante no evento em vários aspectos foi o humano, lembrando que precisamos estar no centro das decisões.

E nessa linha, com palestra sobre saúde mental e bem-estar, Ester Perel falou sobre a intimidade artificial e a incessante busca que fazemos hoje pela otimização (do tempo, de recursos) e que nos impede de estarmos presentes e sermos surpreendidos. É preciso estar disponível uns para os outros. Como mudar isso? Através de conexões reais. Compartilhando sensações. Estando presente. Porque somos humanos, acima de tudo.

Outra palestra que emocionou foi a de José Andrés, o chef espanhol, fundador da World Central Kitchen, que imigrou para os Estados Unidos em 1991, usando aulas de culinária para alimentar, empoderar pessoas, fortalecer a economia dessas comunidades e para proporcionar alimentação para vítimas de grandes tragédias ao redor do mundo.

Define a organização, criada por ele, como pessoas ajudando pessoas, mesas longas e não muros altos.

Uma palestra bem interessante para o público da SuperVarejo, foi o painel sobre como uma nova escola de líderes está transformando o marketing de experiência, com a participação de Conny Braams (Unilever), Jeremi Gorman (Netflix) e Tim Mapes (Delta Airlines), que mostraram como estão navegando nesse novo universo, onde físico e digital se convergiram e não podem ser tratados separadamente.

As linhas entre marketing e vendas estão borradas e é necessário agir em conjunto para conseguir preferivelmente se antecipar ou reagir sempre que necessário.

O executivo da Delta pontuou que hoje 90% dos colaboradores são pessoas de marketing para a empresa, pois através de suas redes sociais conseguem divulgar e alcançar muitas outras pessoas.

A Unilever com cerca de 3 bilhões de clientes consumindo seus produtos todos os dias no mundo todo, falou sobre mídia no ponto de venda físico e virtual, um mercado que chegará em US$ 100 bilhões o investimento até 2025, e no qual a Unilever está de olho e pretende investir e inclusive educar os varejistas para melhorar suas opções de mídia. É necessário muito criatividade para trabalhar essas mídias que são extremamente efetivas para converter vendas e fortalecer marca, ao mesmo tempo.

Esses foram apenas alguns destaques de tudo que foi falado no SXSW, que realmente deixa a mente de seus participantes borbulhando e atenta sobre assuntos que impactam nossas vidas e negócios.

E se você tem esse perfil de ligar pontos para saber o que está vindo, considere colocar o evento em sua agenda no próximo ano.

Fabrícia Botelho é fundadora da FABBO Futuros (Crédito/Fabrícia Botelho)