Relatos de racismo e violência em supermercados têm trazido destaque ao tema, tornando urgente o debate sobre as responsabilidades individuais e coletivas das empresas no enfrentamento do problema.
Susana Durão, professora do Departamento de Antropologia da Unicamp, alerta que, antes de mais nada, é preciso entender que a responsabilidade não está no trabalhador, que, por vezes, pode assumir atitudes discriminatórias. O preconceito está presente na sociedade brasileira de forma mais ampla, em vários níveis.
Por isso mesmo é essencial que, para a mitigação do preconceito racial e pela justiça social, as empresas forneçam treinamentos e cursos de aperfeiçoamento, oferecendo dados do contexto global e nacional sobre o racismo estrutural, e que determinem os diversos aspectos que influenciam nas tomadas de decisão dos profissionais. “Para treinar melhor os profissionais, precisamos ter ciência e explicar os conceitos abstratos dos direitos humanos e direitos civis, mas também trabalhar ações e situações concretas para identificar a sutileza e a brutalidade do racismo na prática”, afirma.
Susana levanta um ponto de atenção quanto aos protocolos que devem ser seguidos pelas empresas, principalmente para a contratação dos profissionais de segurança nos supermercados. Esses procedimentos devem relacionar questões éticas e inteligência emocional, orientando o colaborador sobre como agir em cada situação, seja de conflito, roubo, furto ou tumulto. “É preciso criar procedimentos-padrão e checar a aplicação deles. Infelizmente, no Brasil, nós não vemos as empresas trabalharem adequadamente o controle de qualidade da segurança. Isso ainda não está definido como uma prioridade na orientação das políticas empresariais. A responsabilidade social é um tema que não chegou ao Brasil com a abrangência que deveria ter”, frisa a professora.
Os profissionais devem estar preparados, principalmente para mediar situações de instabilidade. “O despreparo pode desencadear a violência. É preciso ter receptividade para lidar com essas situações de forma mais humana, de estabilizá-las sem avançar para situações violentas. É necessário saber distinguir o que realmente é uma situação simples, com pessoas que não são uma ameaça, do que é uma criminalidade grave.”
A especialista também sugere que haja uma comunicação constante com os colaboradores referente ao comportamento esperado, da não tolerância à agressividade ou à violência. “Essas informações podem estar nos espaços de convívio dos profissionais e, também, disponíveis em outros locais visíveis para todos. É importante deixar claro que a violência, seja verbal ou física, e o preconceito, não são tolerados pela empresa.”
Como medidas de apoio e orientação aos colaboradores, os supermercados podem criar ouvidorias internas, com o cuidado de não penalizar o profissional da ponta, que geralmente está mais abandonado, sem apoio ou sinergia. “Os supermercados e o varejo, como um todo, deveriam ter como hábito sinalizar as suas regras de funcionamento, as suas políticas”, finaliza.
Na próxima edição da revista SuperVarejo, trazemos matéria de capa com o tema Segurança, indo a fundo nessa questão. Aguarde e continue se informando sobre o tema.
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