Nos últimos anos, o sistema financeiro tem passado por uma verdadeira disrupção. Do open banking ao pagamento por links, reconhecimento facial, Pix, entre outras inovações, as criptomoedas também se juntaram ao rol de opções para transações no mundo inteiro.

Em entrevista à SuperVarejo, o trader do Mercado Bitcoin, Humberto Andrade, esclarece alguns pontos importantes para o varejista começar a entender essa nova realidade e avaliar o uso dos criptoativos como meio de pagamento em sua loja.   

Confira!

1. Recentemente foi divulgado que o Walmart deve criar criptomoedas e tokens não fungíveis (NFTs) próprios, além de instalar caixas eletrônicos de bitcoins em suas lojas. Pensando no Brasil, no que o varejo precisa evoluir para chegar a este patamar?
O principal entrave para o avanço da utilização de criptoativos no varejo brasileiro é, em grande parte, o interesse do próprio empresariado. Já existem algumas iniciativas pontuais no Brasil com as mesmas características, seja de caixas eletrônicos de bitcoin (a empresa Coin Cloud já instalou unidades em diversos pontos do Brasil e do mundo), bem como protocolos que buscam facilitar o consumo via cripto. É verdade que, para o varejista, também não é fácil adaptar seu negócio, mas hoje já é possível receber bitcoin usando QR Code, assim como Pix. Além do desafio de o próprio empresário precisar conhecer a dinâmica desse novo mercado, existe a necessidade de avanço em pautas de regulamentação para que haja o subsídio legal de estruturas contábeis e jurídicas de maneira mais simples.

2. Caso as criptomoedas sejam regulamentadas em breve pelo Banco Central, os avanços serão mais rápidos?
Essa resposta depende muito de como virá a regulamentação. Ela precisa acontecer de maneira que não trave o desenvolvimento do mercado. A não discussão do tema em esferas regulatórias, com pautas que visem avançar ainda mais o uso dos criptoativos na dinâmica de consumo da nossa sociedade, pode atrasar a criação de produtos num mercado que tem um ritmo acelerado de transformação. A regulamentação precisa ser propositiva e com foco no entendimento do ecossistema como um todo, não apenas olhando um projeto de maneira direcional. Existem algumas iniciativas do Banco Central, com o lançamento da sua CBDC (Central Bank Digital Currency , ou Moeda Digital Emitida por Banco Central), que poderá auxiliar nesse tipo de desenvolvimento, mas, até lá, aguardamos com parcimônia as proposições das esferas, com foco na discussão sadia.

3. Em quanto tempo você acredita que as moedas digitais vão se popularizar no Brasil?
Elas já são populares no Brasil. Acredito que o que pode impulsionar ainda mais seu uso é o avanço das discussões da CBDC do Banco Central brasileiro. Isso pode ampliar a utilização pela população de maneira muito rápida, assim como aconteceu com o Pix.

4. Qual é a criptomoeda mais utilizada no Brasil?
Bitcoin ainda tem o maior mercado, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Mas isso é muito relativo. Atualmente existem várias possibilidades de uso, que variam de acordo com a rede que o cliente quer utilizar e, também, a que o varejo se apropria, por questões de custos e controle. Um bom caso de uso para o varejo é o protocolo Dash, que já funciona em vários pequenos estabelecimentos em São Thomé das Letras (MG), ou mesmo do próprio protocolo WiBx, que tenta explorar o varejo brasileiro. Mas ainda é preciso estudar cada caso, pensando no foco que o empresário quer dar para o seu negócio. Bitcoin também já tem uma ótima capilaridade com o varejo, usando a Lightning Network (sistema construído com base da tecnologia blockchain a fim de realizar transações mais rápidas e baratas).

5. Mesmo com a volatilidade desse modelo financeiro, vale a pena que supermercados adotem o pagamento em moedas digitais?
Essa questão da volatilidade só vai interessar para o empreendimento que quiser manter sua posição. Hoje é possível receber e liquidar no mesmo momento, se utilizando de estruturas como a MezaPro — empresa do Grupo 2TM (holding do Mercado Bitcoin) — para volumes maiores, em que não há taxa de negociação. Também é possível receber já o valor do ativo convertido. Tudo depende do planejamento do estabelecimento. Mas é importante ressaltar que existem diversas formas de se trabalhar com trava de preço para minimizar a oscilação dos criptoativos, assim como funcionam as travas do mercado dolarizado, para quem não quer se expor à variação do câmbio.

6. O que mais supermercadistas precisam saber para estruturar suas operações e poder aceitar esse modal de pagamento?
O empresário precisa entender bem como funciona a estrutura de rede blockchain e como é possível transformar aquele ativo em moeda corrente, quais são os custos envolvidos na rede escolhida e, principalmente, como ele irá declarar as transações de acordo com seu regime tributário.

7. Quais seriam as principais vantagens e riscos para consumidores e supermercadistas?
São inúmeras as vantagens, mas a principal é atingir um público que cresce a cada dia. Os usuários de criptoativos têm aumentado cada vez mais, e o consumo desses clientes não irá acontecer mais em moedas como real ou dólar. Cada vez mais o mercado tem se tornado digital. Entrar nesse momento de construção abre uma vantagem competitiva muito grande aos desbravadores, que estarão mais preparados conforme o próprio mercado for desenvolvendo produtos de maneira mais estruturada para o varejo.

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